segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Sobre papagaios e crianças



Ontem, misturado às notícias de Marta, kassab, Macain, Bush, Bovespa, Seqüestro, Eloá, A favorita e final Futsal estava, num canto da tela do computador, um amontoado de pássaros verdes. Meu olhar parou . Interrompeu-se diante daquela foto linda. Eram papagaios e eu os adoro.

Suas cores atravessam os sentidos. Papagaio é verão, é festa. Dá para imaginar uma roupagem colorida como a deles em inverno europeu? Nunca. Porque esse pássaro é muito brasileiro e combina com árvore, mato, goiaba, manga, amora e céu azul. Puxa, que quadro perfeito!

Mas, cadê o céu azul? Não vejo na foto. Aliás, as cabecinhas dos papagaios estão muito juntas e apertadas. Sei que andam em bandos, mas não tão atrelados assim. As asas estão engalfinhadas e os bicos parecem presos ao chão.

Retiro o olhar da foto e me ponho a ler o texto que vem logo abaixo. Bacana, esse casamento de leitura e imagem. Elas se somam e nos entregam a mensagem.

Entristeço.... A notícia dessa aquarela de papagaios é suja e desgostosa. Os pássaros foram caçados. Aprisionaram suas cores e seus cantos. Estavam em cativeiro, até ontem. Hoje, o Ibama lhes entrega o céu azul. Mas, como dar a “alguém” alguma coisa que já é seu por direito?

Minhas leituras continuam e vejo a seguinte chamada: “Bolsa Família completa 5 anos dando o direito à criança de ir e permanecer na escola”.
Cada família pode receber até três benefícios variáveis, ou seja, até R$ 60,00. Para ter esse dinheiro garantido, a família se compromete a cumprir as condições do programa, tais como manter a freqüência escolar das crianças e adolescentes e cumprir os cuidados básicos em saúde. As famílias estão muito satisfeitas com o programa, pois têm mais recursos em alimentação, material escolar e vestuário infantil e assim as crianças e adolescentes de classe baixa têm a sala de aula e a educação como presente. Para, Elimar Nascimento, professor da Universidade de Brasília, o Brasil precisa de educação para se desenvolver, mas é, necessário antes de qualquer coisa, articular os recursos para tirar as pessoas da miséria.

O que dizer sobre os papagaios e as crianças desses textos? Os primeiros estão presos, mas ganharão em breve o céu; os segundos estão na miséria mas têm $60,00 reais mensais. Não tenho muito que falar. Faço das palavras do professor Elimar, as minhas: “O Brasil precisa de educação para se desenvolver”

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Conversa de aluno

O texto que está escrito em mim.

Quem sou eu? Uma mistura de tudo que já passei e vivi. Trago comigo todas as pessoas da infância, adolescência ou vida adulta. Sou também reflexo de minhas leituras . Tenho um texto dentro de mim. Por isso, hoje, presto muita atenção em quem chega e sai da escola. A responsabilidade é imensa frente a todas as identidades que circulam na sala de aula .O que norteia, segura e envolve esse processo é um fio de nylon invisível. Podemos como professores ajudar nossos alunos a formar um colar nessa linha invisível, mas também, sem cuidado e atenção corremos o risco de não ver, cortar esse fio, e deixar que o colar se despedaça.

Agradeço a todos professores que passaram na minha vida, pois enxergaram esse fio e respeitaram as diferentes miçangas que o enlaçava. A cada um deles agradeço a visita no meu coração.

Ramos. Eu sou Ramos de Graciliano Ramos.


Era assim que meu professor de Literatura se apresentava em sala de aula. Eu chegava cedo ao colégio para pegar o melhor lugar. Além disso, quem sentava na frente ganhava versos. Ramos os inventava na hora. Era um apaixonado por Graciliano Ramos, José Lins do Rego, Fernando Pessoa. Falava deles com maestria. Sabia de tudo. Obras, vida, particularidades. Às vezes, acho que até inventava, mas tudo bem, era por uma boa causa; a Literatura.

Conheci com José Lins todo o ciclo da cana de açúcar. Em Vidas Secas fiz parte da família de Fabiano, Vitória, os filhos e Baleia que parecia ser gente na minha leitura. A metáfora, “Você é um bicho, Fabiano” tomava conta das nossas discussões na sala de aula.

Quando terminei o Ensino Médio, pensei fazer Agronomia. Eu que sempre fui tão ligada à terra, aos bichos e às plantas, pensei: É agora, minha chance de voltar para a sombra de meus pés de João-Bolô. Talvez, com um pouco de estudo consigo até tirar a tinta roxa da fruta dele. Pura divagação minha. Coisas de adolescente. Tudo isso passou e foi com meu professor Ramos que decidi fazer Letras. Ser professora.

O quadrado da hipotenusa é igual à soma dos quadrados dos catetos

Começo meu texto, pedindo desculpa a Pitágoras. Sei que essa fórmula a2=b2+c2 é importantíssima e revolucionou a Matemática, segundo meus professores de Ensino Médio. Aprendi a usá-la com grande esforço e a ajuda de amigos e professores foi essencial .
Contudo hoje, fico pensando: Será que precisava tanta energia, tantos exercícios, tantos traços e retas? Três anos vendo Pitágoras nos livros, nos cadernos, na lousa. Só dava ele. Pitágoras, o ator principal da Matemática do Ensino Médio. Fiz o que pude. Consegui passar, mas não tive grandes notas. Também, a Matemática e eu não nascemos para o mesmo mundo e com Pitágoras não seria diferente.
Gostaria de usar a fórmula, eu ainda não a esqueci. Contudo, até ontem, não precisei saber o valor do quadrado da hipotenusa, talvez seja porque também não tenha a soma dos quadrados dos catetos, ou vice-versa. Sei lá!!! Já me confundi de novo. Mas, sei a fórmula, viu!!!!!!!

BRANCA ALVES DE LIMA


Meu primeiro livro foi uma cartilha. Caminho Suave era o nome e Branca A. de Lima a autora. Conta-se que Branca era professora e foi observando a dificuldade de seus alunos, a maioria oriundos da zona rural, que ela criou o método "alfabetização pela imagem". A cartilha começava pelas vogais, passava para os encontros vocálicos e por último vinha a parte da silabação.

Lembro que a letra "a" ficava inserida no corpo de uma abelha, a letra "b", na barriga de um bebê, o "f" instalado no cabo de uma faca, a letra "o", dentro de um ovo e assim por diante. Os textos eram muito simples, como:

O BEBÊ É BONITO

ELE BABA

VEJA A BARRIGA DO BEBÊ

BA-BE-BI-BO-BU.

Minhas primeiras leituras foram com esses textos, porém eles sempre vinham recheados da engenhosidade e criatividade da minha primeira professora. Dona Edith. Era ela quem dava brilho às páginas. Inventava histórias, colocava nome nas coisas e nos instigava para ir além daquela cartilha.

O que mais gostava era do nosso ritual de leituras. O sorteio dava a direção por onde a cartilha iria passar. Não podíamos ficar sentados ou debruçados sob as carteiras. A posição devia ser em pé com a coluna ereta e voz forte para que todos pudessem ouvir. Dona Edith não perdia nada, assinalava tudo e no final vinha o veredicto, a nota, que podia vir acompanhada de elogios ou de uma longa correção.

Para alguns era um momento péssimo da aula, para mim, a glória, o júbilo, a fama. Sentia-me como uma Fátima Bernardes de hoje, pois Dona Edith não economizava elogios à minha leitura. E tudo aquilo me responsabilizou de tal forma que eu sempre quis fazer mais e melhor. Durante, todo o Ensino Fundamental a voz daquela minha primeira professora me acompanhou afirmando minhas ações em sala de aula.

INSPEÇÃO: UM, DOIS, TRÊS.


Anos 70. Já estava no Grupo. E de repente vi que o dia se repartia entre manhãs, tardes e noites. Conheci os horários e entendi que as manhãs não mais me pertenciam. Eram da escola.

Vieram comigo a lancheira, a pasta nova e uma maravilhosa caixa de lápis de cor, mas junto também estavam o uniforme, a fila, o sino, as carteiras pregadas no chão e o silêncio.

“Psiu, atenção!!!!! Lápis e caderno na mão, cada um com sua atenção”. Esse era o lema da minha professora.

Entrávamos às 7:00 horas e só ao meio dia o sino tocava. No meio da manhã vinha a melhor parte, o recreio. Era maravilhoso. Corríamos e brincávamos muito a ponto de deixar, no retorno à sala de aula , os cadernos sujos e molhados com nosso suor. Por conta disso, pagamos um preço. Nossos recreios passaram a ser vigiados. Tínhamos que aprender a andar, segundo a inspetora escolar.

Que nome é esse, hein??? “Inspetora”. Sua função: atentar,vistoriar, cobrar,atazanar. Ela não ficou muito na minha escola, seu trabalho era impraticável. Como vigiar mão, pé, perna e boca de criança quando tudo quer funcionar ao mesmo tempo? Missão impossível. Por isso, para nossa alegria, ela foi embora e devagar nos acostumamos à disciplina que a escola exigia.

À SOMBRA DE JOÃO-BOLÔS

Há 30, 40 anos atrás , a escola, somente, se abria para as crianças de 7 anos completos e o primário se dividia entre a 1ª, 2ª, 3ª e 4ª séries. Antes disso, o que sobrava para nós menores de 7 anos, era vê-la de longe e algumas vezes, através do portão, roubar olhares do recreio e invejar as crianças que já estavam lá dentro.

O que a escola oferecia era tudo o que os meus longos dias de infância não me proporcionavam. Porque, em casa, as manhãs e as tardes se misturavam. Eram soltas. A brincadeira podia se dar no quintal, em cima da goiabeira, na calçada , no córrego que passava no fundo da minha casa ou nos pés de João – Bolôs que nasciam a revelia em minha cidade. Suas sombras tomavam conta dos dias mornos e sua fruta amarga e roxa pintava as ruas e também a nossa boca. Éramos uns “caras-pintadas” diferentes.

A causa maior, daquela minha turma de 5,6 anos, era ir para a escola. Atingir a maioridade. Completar “os benditos” dos 7 anos. Fazer parte do Grupo Escolar. Ser aluna(o) regular. Entrar pela porta da frente. Usar uniforme, comprar lancheira, ter pasta “tiracolo” e de uma vez por todas ter uma caixa de lápis colorido Faber-castel 36 cores.

Pronto. Assim, o sonho se completava. Podia ser gente grande. E logo, com um pouco mais de paciência, poderia ter meus 7 anos registrados no papel, com bolo de aniversário e tudo mais. Dona de Mim e matriculada no Grupo Escolar trocaria a sombra dos Pés de João-Bolôs pela sala de aula.

BOUQUET DE PALAVRAS


Nossa Língua Portuguesa com as suas variedades lingüísticas é maravilhosa e tem esse charme especial que tão bem conhecemos. Imagine, agora, a quantidade de palavras que existem à nossa disposição. Podemos escolhê-las, brincar com cada uma delas, enfileirá-las, organizá-las e acomodá-las em seus devidos lugares. E, isso fica muito fácil, quando as palavras são parentes, como: mãe e filha, tio e tia , avô e avó . Elas se acolhem .

No entanto, há outras que decidem por si só não darem as mãos. Parecem emburradas, viram a cara umas para as outras dentro das frases e não há vírgula, conjunção, exclamação que dê conta desse mal. Em momentos como esses não há muito que fazer, nem sempre conseguimos apaziguá-las e trazer a política de boa vizinhança para dentro do texto. O que nos resta, então, é a reescritura, pois escrever exige humildade, paciência e sobretudo, determinação.

Porque quando se consegue trazer para dentro do texto essa irmandade e companheirismo entre as palavras, dá-se então o melhor da LITERATURA, pois as palavras vêem grávidas, e a leitura de cada uma delas faz nascer em nós sentimentos muito particulares. Ás vezes é o choro, outras vezes o riso farto, a saudade, o amor. Uma explosão de emoção. E o que é ler?

Cada um de nós tem suas experiências. Alguns são leitores de Clarisse, outros de Pessoa, Correio Braziliense, Estadão, Paulo Coelho, Caras, Drumond, talvez. São leituras e são elas que entranham em nosso ser, tomando conta da nossa percepção de mundo, de vida mesmo. Pensem, quantas vezes trazemos conosco a companhia invisível dos nossos primeiros contadores de história ou do primeiro livro. Poesias que nos acompanham desde sempre. Escritores que guiam nossos sentimentos. Coisas que enchem o coração. Enamoram nossa alma.

Por isso, dou um viva à literatura e a todos poetas, romancistas, cronistas, ensaístas que conhecem os corredores por onde andam as palavras e as salas por onde se escondem. Conhecem seus pares e caminham com tranqüilidade entre linhas e parágrafos. Por fim, conseguem com papel bonito e laço de presente entregar as palavras, para nós leitores, em forma de bouquet. Bouquet de palavras. Assim são os livros para mim.

sábado, 11 de outubro de 2008

Expressões idiomáticas


Aula UnB: 10/10/2008

Professora: Patrícia Vieira

Uso do Dicionário: Expressões Idiomáticas.

Brincar com as expressões.

Fazer com que elas se dêem as mãos e formem um texto, uma história.




Ontem, em uma discussão boba com minha amiga, perdi a cabeça. Também, aquela cabeça-de-alho-chocho da Antônia veio com uma conversa sem pés nem cabeça e eu me atirei de cabeça., simplesmente acreditei em tudo.

Tudo aconteceu, porque Vera estava com a mão na massa quando entrei na cozinha, e meu sangue ferveu naquela hora. Aí, o que a Antônia teve que fazer foi só dar uma mãozinha e eu inocente entreguei tudo de mão beijada. Depois que soube do mal entendido, tive que dar a mão à palmatória e saí com uma mão à frente e outra atrás.

Sem dinheiro e sem freguês fiquei com uma baita dor de cotovelo, pois Antônia se aliou a Vera e seguiu com sucesso o negócio. Mas, as coisas ruins vêem a galope e como era de se esperar as articulações de Antônia foram descobertas por Vera. Quem mandou ela falar pelos cotovelos.

Eu sei que tenho cabelo na venta e nada passa por mim barato. Então, como eu poderia agüentar tudo aquilo, quieta? Agora, se ela tem as costas largas e quente é um problema dela. Duvido que saia dessa sem se lambuzar.

O que eu não posso é ficar chupando o dedo nessa história. Ela ganha tudo e eu nada . Como é isso? Não dá para entender. Meus pais disseram que eu faço tempestade num copo de água, mas eu refutei e disse: Não tenho sangue de barata.

Vou contar pra todo mundo e também na justiça o que era feito naquela cozinha. Nossos biscoitos eram os melhores e Vera sabia disso. Como ela e eu acreditamos nas conversas da sonsa da Antônia. Sonsas, fomos nós.

Fico com dó de Vera, mas mentira tem a perna curta e não adianta ela chorar pelo leite derramado. Ela terá que explicar tudo direitinho que fez de errado. Vai ter andar na linha.

Sei que não tenho mais meu ganha pão, porém estou tranqüila e a Antônia terá que descascar esse abacaxi sozinha. Quero ver pra quem ela vai passar essa bola. Pega que é sua Antônia.

Cordel



Terça-feira foi uma dessas manhãs que começam meio sonolentas, mornas , sem vontade de acordar e depois se apresentam de uma maneira bastante encantadora . Pois, assim se deu dia 7/10. Na sala de aula, tínhamos visita. Além do quadro negro, do giz, do apagador, das cadeiras dispersas e do túnel de luz que deitava em cima da mesa do professor, estava Fábio. Abraçando as cadeiras, um varal se estendia. Não desses que sacolejam ao vento roupas brancas , mas, um de cordéis. Doidos para serem lidos, mas presos por uma pontinha esperando que nós os abríssemos.

No centro da sala, sob a mesa, duas latas de tinta preta, várias tábuas de carne , muitos cinzéis, carbono, papel, e nós com a pergunta, o que é isso Fábio? Essa “bagunça” cabe na sala de aula?

E, Fábio com aquele jeito tranqüilo, manso e sereno, responde: Bom Dia pessoal! Hoje, a palavra de ordem é cordel e a deleite de cada um de vocês convido para estar conosco nesta manhã, meus amigos cordelistas: Leandro Gomes de Barros, João Martins de Athayde, Cuíca de Santo Amaro, Rodolfo Coelho Cavalcante, Raimundo Santa Helena, Patativa do Assaré, Francklin Machado e Paulo Nunes Batista.

Todos nós acordamos, com aquela chamada. Porque o professor que estava ali acreditava muito no que dizia e começou naquele instante nos apresentar o cordel da Idade Média, o cordel das praças, dos trovadores e dos romances de cavalaria.

O cordel do sertanejo, do homem analfabeto, do brejeiro. Conta-se que o matuto do Nordeste ia para a feira comprar cordel porque o filho dele que estava na escola podia ler para ele. Então, o cordel é um veículo de difusão de cultura muito importante e, muita gente aprendeu a ler através dele.

Hoje, na nossa sala de aula, o cordel traz parcerias fantásticas entre as disciplinas de História, Língua Portuguesa e Artes, sem contar no casamento perfeito que existe entre a xilogravura e os versos. Os assuntos no cordel podem ser vários. Envolvem a política, a religião, o amor e têm títulos, às vezes , muito engraçados. Em Língua Portuguesa os alunos aprendem o que é métrica, principalmente a de sete sílabas poéticas (setilhas), e estrofes de seis versos. A oralidade é outro ponto alto no cordel, porque vem enriquecida de forma poética e tem uma “batida” que encanta quem fala e quem ouve.

E foi nesse encantamento que, Fábio pediu uma leitura compartilhada de um cordel. Cada um de nós ficou com uma estrofe. Não sei se tivemos ritmo ou o charme de “Athayde” naquela leitura, mas foi muito bom. Bom mesmo!!!!

Já nos despedindo da manhã, a aventura foi fazer xilos. De guarda-pó, rolinho de tinta na mão e muitos risos terminamos nossa aula com uma salva de palmas para o nosso amigo, professor e cordelista Fábio. Que soube fazer de uma manhã embaçada um dia de ritmo, sonoridade, métrica, e estilo.

Fábio não disse nada sobre mulheres cordelistas, mas gostaria de deixar umas estrofes para ele de presente, aí vão meus versos para você:

Fábio é desses moços

Que não gosta de alvoroço.

Chega manso, bem quietinho e

Sai logo de mansinho.

Outro dia fez diferente

Mostrou cara e fez fala

Não se dando por contente

Foi entrando pela frente

Fez partido e trouxe visita

Puxou cadeira e mandou sentar

Reuniu todo mundo e com

A gente se pôs a falar

O que te digo, meu amigo

O que é bom é pra se mostrar .

Meu respeito e meu elogio para

Esse homem que sabe compartilhar.

Vou fechando esse cordel

De um jeito muito diferente

meu muito obrigada ao Fábio

que me deixou muito contente.

OBS: Não posso deixar de anunciar a todos os interessados que Fábio deixou vários exemplares de cordéis e estão a disposição de todos que visitarem a Palavraria. Além disso, nesta próxima Sexta à tarde, Fábio estará juntamente com Lenita e Maurício em um bate papo sobre: Glosador, cordelista, repentista, cantador e coquista.

Será um momento de grande descontração e aprendizado e quem sabe você é um grande coquista e está aí de fora desperdiçando talento.

Espero por vocês e até lá.

O mascate vendedor de leituras


Antes que eu fale sobre o mascate, vendedor de palavras e de leituras, gostaria de apresentá-lo formalmente. Quem foi o mascate?
Há muito tempo atrás, as lojas e shoppings não se aglomeravam como hoje. No interior do país, principalmente, as novidades e muitas vezes as notícias eram trazidas pela figura do mascate, que se dispunha a percorrer as cidades batendo de casa em casa oferecendo suas mercadorias, sejam elas; balangandãs ou sonhos. Trazia em sua mala feita de papelão prensado, um pouquinho de tudo e a apresentação desse “tudo” que fazia um mascate ser bom ou ruim no ofício.O que valia era seu poder de seduzir as pessoas à compra de seus produtos.
Pois bem, de todos os mascates que já percorreram esse nosso país quero falar de um em particular. Hallo era seu nome. Turquia a sua terra. Mas, era o sotaque daquele homem que nos encantava, pois era o diferente dentro daquela minha cidade ,onde tudo era muito igual e rotineiro.
Por isso que, quando Hallo chegava às nossas casas, as coisas podiam esperar. Nada mais precisava de pressa. O almoço, o ônibus, o trabalho, a novela, a brincadeira ficavam para depois. Urgente e fascinante era esperar a abertura daquela mala que ficava sob a mesa. Nós crianças nos amontoávamos ao redor de Hallo, para não perder nada da sua conversa.
E, meu Deus quando ele abria aquela mala, o mundo coloria ao nosso redor. Eram os vestidos, lenços, batons, revistas, lençóis, colchas. Sim, colchas, pois era Hallo quem vendia o enxoval para as moças casadouras daquele lugar. Os pentes, perfumes e pó-de-arroz desfilavam na nossa frente e Hallo garantia que tudo era a última moda vinda das capitais ou de algum lugar da Europa. Ele falava das atrizes, dava informações seguras sobre as novelas e de brinde ainda nos colocava a par dos bastidores da política. Acreditávamos em tudo, era bom fazer parte daquele sonho que ele tão bem nos vendia.
Agora, o que se fazia único, sensacional e singular em todas aquelas coisas coloridas, bonitas e brilhantes, era o momento que como um mágico ele tirava um livro da mala.Erguendo-o e rodopiando, dizia: “Esse é sem igual”. Não há história mais inquietante e sagaz que esta. Coisa de primeira linha. Leitura reservada para poucos. Dizem que este é o preferido das altas rodas e por aí, ia a conversa.
A apresentação do livro seguia um roteiro, que nós crianças já conhecíamos, mas nos deliciávamos, sempre, como se fosse a primeira vez.
Com a capa, Hallo iniciava sua performance. Mostrando o título dourado que saltava da cor forte que o livro trazia, exaltava a riqueza e a espessura do papel. Do título à editora, reservava maior atenção à edição. E era nesse item, que ele nos convencia da exclusividade daquela obra, pois a edição era limitada.
Depois, com uma singeleza e uma presteza sem igual, pedia licença ao livro para abri-lo e aí sim, apresentava o escritor e a riqueza da história ali contada.
Em um terceiro momento, como numa novela ou teatro todos os personagens eram apresentados. Sabíamos a partir daí, quem era quem naquela trama e só então depois disso que ele começava a contar a história. Aquele mascate nos deixava bêbados, embriagados no meio daquela festa de palavras. Sentados no chão, esperávamos cada gota daquela leitura e quando achávamos que Hallo ia nos entregar a história, sabe o que acontecia? Ele, novamente, erguia o livro e, dizia: “Esse livro, lindo e maravilhoso está por um preço sensacional. Uma bagatela, muito barato mesmo. Para terem o desenrolar dessa leitura maravilhosa é só adquirir comigo esse exemplar, único”.
Assim, muitas vezes, no lugar do vestido, do colar ou do batom vermelho-carmim era o livro que vinha parar dentro da minha gaveta.
E que bom de novo ter aquela leitura, mas com a voz e o sotaque atrapalhado do Hallo na minha cabeça. Reviver aquela história, que interessante. Acho que aquele turco, chamado Hallo, que não sei por que terras ainda anda, não sabia, mas ele sim era um escritor, um verdadeiro professor. Ele era um mascate vendedor de leituras. Um mascate vendedor de sonhos. A esse homem “encantador de palavras”, todo meu respeito.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Palavraria

Hoje, eu abro a palavraria. Vendo palavras. Palavras doces, amargas, tristes, alegres, boas, felizes, palavras tristes. Palavras com gosto de mel, de flor ,de primavera e com gosto de setembro. Setembro não é o mês das flores que seja então o mês das palavras.

Tenho nas minhas prateleiras, palavras vindas de muito longe, palavras de agora, do cotidiano, do trabalho, palavras da infância. Hoje quero ficar com as palavras da minha infância. Aliás, as vitrines da palavraria estão emolduradas de palavras infantis. E acreditem, todas estão em liquidação. E o que são as palavras infantis?

Não pense você que elas se limitam a bola, papagaio, carrinho, bolinha de gude. Ah, as bolinhas de gude!!!! Adoro as brancas, verdes, amarelas, azuis, as negras, as grandes, as pequenas. As bilocas. Você já jogou biloca? Que nome é esse? Não me atrevo a fazer com que você conheça essas brincadeiras de quintal. Mas, biloca é uma das preciosidades da palavraria. Seu significado? Não vai aqui o do Aurélio, mas recorro às minhas lembranças e conceituo biloca, como: Bola grande, rainha, disputada por todos no jogo de bola de gude. Quem faz mais pontos leva a biloca.

Chega de conversa, estamos em liquidação, e eu ofereço a todos que chegarem à palavraria um convite à infância e às primeiras leituras.

As leituras e palavras que fizeram parte de meu universo e as que enumero vem envoltas de sonoridade , felicidade, alegria mesmo, porque aparecem nas palavras terreiro, quintal, casinha, fogãozinho a lenha, chá de mentirinha, fumacinha de chaminé, livro, histórias e brinde de chá em xícara quebrada.

Faço uma promoção relâmpago, agora, na palavraria. Ouço suas histórias e aplaudo cada uma delas. Não me importo se são de monstros, fantasmas, anjos ou vaga-lumes,. Que venham todas. Quero misturá-las com as minhas. Vamos fazer comércio? Vender idéias, novas ou velhas. Rejuvenescê-las. Entrem todos. Vamos nos sentar e se acomodem em algum lugar. Além de livros e palavras também oferecemos viagens.

Como anfitriã da palavraria, gostaria que essa viagem começasse com minha história, ofereço a vocês, então: O mascate vendedor de leituras.