quinta-feira, 16 de outubro de 2008

À SOMBRA DE JOÃO-BOLÔS

Há 30, 40 anos atrás , a escola, somente, se abria para as crianças de 7 anos completos e o primário se dividia entre a 1ª, 2ª, 3ª e 4ª séries. Antes disso, o que sobrava para nós menores de 7 anos, era vê-la de longe e algumas vezes, através do portão, roubar olhares do recreio e invejar as crianças que já estavam lá dentro.

O que a escola oferecia era tudo o que os meus longos dias de infância não me proporcionavam. Porque, em casa, as manhãs e as tardes se misturavam. Eram soltas. A brincadeira podia se dar no quintal, em cima da goiabeira, na calçada , no córrego que passava no fundo da minha casa ou nos pés de João – Bolôs que nasciam a revelia em minha cidade. Suas sombras tomavam conta dos dias mornos e sua fruta amarga e roxa pintava as ruas e também a nossa boca. Éramos uns “caras-pintadas” diferentes.

A causa maior, daquela minha turma de 5,6 anos, era ir para a escola. Atingir a maioridade. Completar “os benditos” dos 7 anos. Fazer parte do Grupo Escolar. Ser aluna(o) regular. Entrar pela porta da frente. Usar uniforme, comprar lancheira, ter pasta “tiracolo” e de uma vez por todas ter uma caixa de lápis colorido Faber-castel 36 cores.

Pronto. Assim, o sonho se completava. Podia ser gente grande. E logo, com um pouco mais de paciência, poderia ter meus 7 anos registrados no papel, com bolo de aniversário e tudo mais. Dona de Mim e matriculada no Grupo Escolar trocaria a sombra dos Pés de João-Bolôs pela sala de aula.

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