Meu primeiro livro foi uma cartilha. Caminho Suave era o nome e Branca A. de Lima a autora. Conta-se que Branca era professora e foi observando a dificuldade de seus alunos, a maioria oriundos da zona rural, que ela criou o método "alfabetização pela imagem". A cartilha começava pelas vogais, passava para os encontros vocálicos e por último vinha a parte da silabação.
Lembro que a letra "a" ficava inserida no corpo de uma abelha, a letra "b", na barriga de um bebê, o "f" instalado no cabo de uma faca, a letra "o", dentro de um ovo e assim por diante. Os textos eram muito simples, como:
O BEBÊ É BONITO
ELE BABA
VEJA A BARRIGA DO BEBÊ
BA-BE-BI-BO-BU.
Minhas primeiras leituras foram com esses textos, porém eles sempre vinham recheados da engenhosidade e criatividade da minha primeira professora. Dona Edith. Era ela quem dava brilho às páginas. Inventava histórias, colocava nome nas coisas e nos instigava para ir além daquela cartilha.
O que mais gostava era do nosso ritual de leituras. O sorteio dava a direção por onde a cartilha iria passar. Não podíamos ficar sentados ou debruçados sob as carteiras. A posição devia ser em pé com a coluna ereta e voz forte para que todos pudessem ouvir. Dona Edith não perdia nada, assinalava tudo e no final vinha o veredicto, a nota, que podia vir acompanhada de elogios ou de uma longa correção.
Para alguns era um momento péssimo da aula, para mim, a glória, o júbilo, a fama. Sentia-me como uma Fátima Bernardes de hoje, pois Dona Edith não economizava elogios à minha leitura. E tudo aquilo me responsabilizou de tal forma que eu sempre quis fazer mais e melhor. Durante, todo o Ensino Fundamental a voz daquela minha primeira professora me acompanhou afirmando minhas ações em sala de aula.
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