Terça-feira foi uma dessas manhãs que começam meio sonolentas, mornas , sem vontade de acordar e depois se apresentam de uma maneira bastante encantadora . Pois, assim se deu dia 7/10. Na sala de aula, tínhamos visita. Além do quadro negro, do giz, do apagador, das cadeiras dispersas e do túnel de luz que deitava em cima da mesa do professor, estava Fábio. Abraçando as cadeiras, um varal se estendia. Não desses que sacolejam ao vento roupas brancas , mas, um de cordéis. Doidos para serem lidos, mas presos por uma pontinha esperando que nós os abríssemos.
No centro da sala, sob a mesa, duas latas de tinta preta, várias tábuas de carne , muitos cinzéis, carbono, papel, e nós com a pergunta, o que é isso Fábio? Essa “bagunça” cabe na sala de aula?
E, Fábio com aquele jeito tranqüilo, manso e sereno, responde: Bom Dia pessoal! Hoje, a palavra de ordem é cordel e a deleite de cada um de vocês convido para estar conosco nesta manhã, meus amigos cordelistas: Leandro Gomes de Barros, João Martins de Athayde, Cuíca de Santo Amaro, Rodolfo Coelho Cavalcante, Raimundo Santa Helena, Patativa do Assaré, Francklin Machado e Paulo Nunes Batista.
Todos nós acordamos, com aquela chamada. Porque o professor que estava ali acreditava muito no que dizia e começou naquele instante nos apresentar o cordel da Idade Média, o cordel das praças, dos trovadores e dos romances de cavalaria.
O cordel do sertanejo, do homem analfabeto, do brejeiro. Conta-se que o matuto do Nordeste ia para a feira comprar cordel porque o filho dele que estava na escola podia ler para ele. Então, o cordel é um veículo de difusão de cultura muito importante e, muita gente aprendeu a ler através dele.
Hoje, na nossa sala de aula, o cordel traz parcerias fantásticas entre as disciplinas de História, Língua Portuguesa e Artes, sem contar no casamento perfeito que existe entre a xilogravura e os versos. Os assuntos no cordel podem ser vários. Envolvem a política, a religião, o amor e têm títulos, às vezes , muito engraçados. Em Língua Portuguesa os alunos aprendem o que é métrica, principalmente a de sete sílabas poéticas (setilhas), e estrofes de seis versos. A oralidade é outro ponto alto no cordel, porque vem enriquecida de forma poética e tem uma “batida” que encanta quem fala e quem ouve.
E foi nesse encantamento que, Fábio pediu uma leitura compartilhada de um cordel. Cada um de nós ficou com uma estrofe. Não sei se tivemos ritmo ou o charme de “Athayde” naquela leitura, mas foi muito bom. Bom mesmo!!!!
Já nos despedindo da manhã, a aventura foi fazer xilos. De guarda-pó, rolinho de tinta na mão e muitos risos terminamos nossa aula com uma salva de palmas para o nosso amigo, professor e cordelista Fábio. Que soube fazer de uma manhã embaçada um dia de ritmo, sonoridade, métrica, e estilo.
Fábio não disse nada sobre mulheres cordelistas, mas gostaria de deixar umas estrofes para ele de presente, aí vão meus versos para você:
Fábio é desses moços
Que não gosta de alvoroço.
Chega manso, bem quietinho e
Sai logo de mansinho.
Outro dia fez diferente
Mostrou cara e fez fala
Não se dando por contente
Foi entrando pela frente
Fez partido e trouxe visita
Puxou cadeira e mandou sentar
Reuniu todo mundo e com
A gente se pôs a falar
O que te digo, meu amigo
O que é bom é pra se mostrar .
Meu respeito e meu elogio para
Esse homem que sabe compartilhar.
Vou fechando esse cordel
De um jeito muito diferente
meu muito obrigada ao Fábio
que me deixou muito contente.
OBS: Não posso deixar de anunciar a todos os interessados que Fábio deixou vários exemplares de cordéis e estão a disposição de todos que visitarem a Palavraria. Além disso, nesta próxima Sexta à tarde, Fábio estará juntamente com Lenita e Maurício em um bate papo sobre: Glosador, cordelista, repentista, cantador e coquista.
Será um momento de grande descontração e aprendizado e quem sabe você é um grande coquista e está aí de fora desperdiçando talento.
Espero por vocês e até lá.
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