Era assim que meu professor de Literatura se apresentava em sala de aula. Eu chegava cedo ao colégio para pegar o melhor lugar. Além disso, quem sentava na frente ganhava versos. Ramos os inventava na hora. Era um apaixonado por Graciliano Ramos, José Lins do Rego, Fernando Pessoa. Falava deles com maestria. Sabia de tudo. Obras, vida, particularidades. Às vezes, acho que até inventava, mas tudo bem, era por uma boa causa; a Literatura.
Conheci com José Lins todo o ciclo da cana de açúcar. Em Vidas Secas fiz parte da família de Fabiano, Vitória, os filhos e Baleia que parecia ser gente na minha leitura. A metáfora, “Você é um bicho, Fabiano” tomava conta das nossas discussões na sala de aula.
Quando terminei o Ensino Médio, pensei fazer Agronomia. Eu que sempre fui tão ligada à terra, aos bichos e às plantas, pensei: É agora, minha chance de voltar para a sombra de meus pés de João-Bolô. Talvez, com um pouco de estudo consigo até tirar a tinta roxa da fruta dele. Pura divagação minha. Coisas de adolescente. Tudo isso passou e foi com meu professor Ramos que decidi fazer Letras. Ser professora.
3 comentários:
Nós, professores, somos modelos mesmo... Nossos alunos nos olham atentos, ainda que não percebamos... Seus corações batem mais forte em nossa presença, seja por admiração, seja por medo... Todo cuidado ainda é pouco para não estar na segunda opção... Seu texto, Eliana, é uma obra literária... Ramos ramifica ramificações...
Um forte abraço.
Dioney
Ler "São Bernardo" e "Vida Secas" foi marcante em minha vida. Literatura pura, sedutora, daquela que deixa cicatrizes.
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